É verão, mês de agosto, moramos na Europa, e as aulas dos meus filhos só começariam em meados de setembro. O que fazer? Viajar. Mas, para onde? Depois de muita pesquisa e vontade nenhuma de pegar o avião, resolvemos explorar o norte da Espanha.
Destino: PAÍS BASCO!
Roteiro: Lisboa – Salamanca - Bilbao – San Sebastian – Haro – Vila Real – Lisboa
Saímos de Lisboa por volta das 10 da manhã, e chegamos em Salamanca umas 5 horas depois. Minha primeira impressão foi que a cidade era monocromática, acostumada com o visual branco com portas azuis de muitas aldeias de Portugal, estranhei sua cor de barro. Nosso hotel ficava ao lado da Plaza Mayor, um dos pontos turísticos mais badalados da cidade, declarada Monumento Nacional desde 1935 e a mais decorada, proporcionada e harmoniosa de todas aquelas existentes na sua época em Espanha. Aos poucos, porém, Salamanca foi me conquistando. Comecei a enxergar as luzes do fim do dia, as sombras compridas, e o céu do fim de tarde quando fizemos um passeio para a conhecer mais um pouquinho. Na hora do jantar, comemos na esplanada, em frente a Igreja La Clerencía, de um restaurante delicioso chamado Corte & Cata. Inaugurávamos aqui a deliciosa gastronomia deste país.
Um fato interessante sobre Salamanca: não existem pombos. Em nenhum lugar. Transformando a alimentação nas esplanadas em um momento muito mais agradável. Escolhemos esta cidade para ser o nosso local de descanso na longa viagem entre Lisboa e o País Basco e por esta razão dormimos aqui somente uma noite.
No dia seguinte partimos depois do café da manhã para Bilbao. A paisagem depois de Burgos se modifica, sai o deserto e entra o verde dos inúmeros parques naturais da região, como por exemplo o Gorbeiako parke naturala e o Aizkorri-Aratz parke naturala que não tivemos tempo de conhecer desta vez.
Nenhuma palavra em Basco lembra o latim. Também não reconhecemos na escrita nenhum caractere do idioma russo, ou mesmo alemão. Claro que existem exceções, como os dois exemplos acima “parke naturala”, mas em geral o que se entende é nada. Fui pesquisar a procedência da língua e me surpreendi: de acordo com a jornalista Ana Bitong, da BBC news, em uma reportagem de 2017 “Euskara (ou euskera, também conhecido como basco), falado nas comunidades autônomas de Navarra, no norte da Espanha, no País Basco e no sudoeste da França, é um mistério: não tem uma origem conhecida ou relação com qualquer outra língua, uma anomalia que chocou especialistas linguísticos por anos.” Além disso, “O idioma é motivo de orgulho para os bascos. Estima-se que 700 mil deles, ou 35% da população da comunidade autônoma, fale a língua hoje. Mas, nem sempre se pôde falar o euskara livremente. De 1939 a 1975, durante a ditadura de Francisco Franco, o euskara foi proibido e o espanhol se tornou o idioma padrão.”
Ao chegar em Bilbao me surpreendi! Nunca a havia imaginado da maneira que ela é. Entrar na cidade pela Ría de Nervión, me lembrou Paris ou Londres, não pela semelhança arquitetônica, mas pela presença do rio e suas margens bem cuidadas. A arquitetura chama a atenção dos desavisados. Fiquei encantada com o estilo dos edifícios, das varandas, das cores. Nos hospedamos no casco viejo, para podermos fazer tudo a pé e experimentar os famosos pintxos, a tapa em estilo basco, feita de alguma guloseima acompanhada de um pedacinho de pão. Do outro lado do rio fica o bairro do famoso Guggenheim Museum Bilbao. Realmente, é um espetáculo! Para os fotógrafos é preciso dar uma volta de 360 graus em torno do prédio para fazer todas as fotos necessárias, e depois é obrigatório entrar, visitar as galerias e exposições e se esbaldar mais uma vez com as curvas, as sombras, os raios de sol e o branco das paredes! E uma grande aranha do lado de fora é a cereja do bolo! Desafio os meus leitores a fazer uma foto original desta imensa escultura!
Em dois dias passeamos muito nesta linda cidade e ainda tivemos tempo de conhecer a Ponte de Vizcaya, simplesmente a primeira no mundo a transportar pessoas e veículos em suspensão. Inaugurada em 1893, funciona como um ferryboat, porém suspenso no ar por várias cordas. A travessia de pedestres pode ser feita pelo ferry ou por cima, onde é possível apreciar uma vista maravilhosa da região.
"A ponte liga a cidade de Portugalete com o bairro de Las Arenas, que pertence ao município de Guecho / Getxo, assim com às margens da Ria de Bilbao. Sua construção foi devida a uma necessidade de unir os balneários existentes nas margens do rio, destinados à burguesia industrial e aos turistas do final do século XIX." - Official website: https://puente-colgante.com
Nós fomos de metro, muito limpo, organizado e moderno, até a cidade de Portugalete e de lá fizemos a travessia por cima até a cidade de Getxo, onde pegamos o metro de volta a Bilbao.
Nosso próximo destino foi San Sebastián ou Donostia em Basco! Apenas 100km separam as duas cidades e o caminho percorrido entre uma e outra é simplesmente lindo! A única informação que eu tinha se referia a alta gastronomia e seus vários restaurantes com estrelas Michelin, muitos chefs espanhóis famosos vieram de lá. Então, imagine uma cidade que tem gastronomia, praia, rio, pontes, montanhas, parte moderna, parte antiga e os famosos pintxos! Imbatível!
Não ficamos no casco viejo desta vez, mas sim em uma parte mais moderna um pouco afastada do centro, o que pra nós foi uma boa decisão, pois juntou o benefício das caminhadas matinais e vespertinas com o custo mais baixo dos alojamentos locais. Recomendo o casco viejo se não se importar com o barulho e ruas lotadas até a alta madrugada. Para famílias ou pessoas que queiram tranquilidade indico os bairros residenciais próximos da Praia de La Concha, são muito bonitos, com calçadas largas, comércio muito interessante, lojas sofisticadas e vários restaurantes.
Logo que chegamos fomos passear pelas margens do Rio Urumea, que corta a cidade e desagua no mar Cantábrico. As duas margens são ligadas por belas pontes e possuem calçadas largas para passeios. Todos os dias saíamos de nosso hotel e percorríamos 1km até chegar ao Centro Velho ou Casco Viejo da cidade. Antes porém, pausa para um delicioso café da manhã de pan con tomate, sucos e café.
A praia da La Concha possui águas claras, calmas e para meu grande espanto, com boa temperatura. De lá se pode saltar das pedras, ou das escadarias, andar de stand up paddle, nadar, e ainda estacionar seu barquinho. Na areia se pode estender a toalha, fazer topless, e aproveitar como se deve um lindo dia de sol, sem ser incomodado por absolutamente ninguém. E lembram que eu disse que tinha uma montanha? Ou melhor, um morro? Tem sim, se chama Urgull e lá em cima tem o Motako gaztelua, um castelo medieval do século 12! Subimos a pé, pois o caminho não é muito extenso, mas bastante íngreme, chegamos no pico completamente exaustos e com sede. Enfatizo o "com sede", pois não quero deixar de falar da grata surpresa quando chegamos ao topo: um café escondido chamado Urgulleko Polboriña. Talvez já seja conhecido, mas eu não tinha a menor ideia que tinha um café no topo da pequena montanha com uma vista linda da Baía de La Concha.
Mas, e a gastronomia? Para a decepção de alguns, sinto dizer que não fomos nos restaurantes de estrelas Michelin. Vamos deixar essa experiência para uma outra viagem. Mas não deixamos de aproveitar os famosos pintxos! É uma experiência engraçada entrar nos vários restaurantes e comer esta iguaria. Não é uma tarefa fácil! Se conseguir se sentar e comer, parabéns, já pode viajar para qualquer lugar da Espanha! A dificuldade não está no atendimento, pois fomos muito bem atendidos em todos os lugares que estivemos, mas sim na logística. Geralmente esses restaurantes possuem mesinhas destinadas aos pintxos, que em dias de verão são muito disputadas, mas se pode também permanecer em pé no balcão, ou do lado de fora. Em ambos os casos, é preciso ir até ao balcão e escolher o que vai comer (alguns restaurantes possuem atendimento na mesa para as bebidas e pratos quentes). A escolha pode ser com seu dedo indicador e o garçom coloca no pratinho, cobra e entrega, ou também pode ser por números que você marca em um papel, que correspondem aos diferentes pintxos e o garçom separa e leva até a sua mesa. Não me pergunte como eles atendem tão bem e cobram tantas pessoas aos mesmo tempo, mas garanto que o que você pediu, você vai ter!
Saímos de San Sebastían com uma leve tristeza, e uma grande vontade de ficarmos mais um pouquinho. Nos despedimos desta região e fomos para La Rioja, já de regresso ao nosso querido Portugal. Esta região da Espanha com mais de 500 vinícolas tem fama internacional devido à qualidade dos seus vinhos. Decidimos fazer nossa base em Haro com vinhedos que fazem parte de sua paisagem e onde a maioria das vinícolas podem ser visitadas.
Aqui também aproveitamos para visitar algumas vinícolas da região, fazer degustações e ainda aproveitar a gastronomia em torno dos pintxos. Haro é uma cidade pequena com 3 ruas principais e uma grande praça, onde todos os visitantes se encontram. As ruelas ficam cheias de turistas a comer e beber. Ficamos 3 dias, então tivemos tempo para também conhecer outras cidades da região, como Laguardia - que recomendo vivamente -, e Elciego, morada de uma das mais famosas vinícolas de La Riola, a Marques de Riscal! Esta bodega maravilhosamente construída pelo arquiteto Frank Gehry, também acomoda um hotel 5 estrelas e 2 restaurantes. Fizemos uma sessão de degustação de vinhos que foi muito agradável.
Algumas fotos de Laguardia:
E finalmente em nosso retorno para casa, na cidade de Lisboa, fizemos nossa última parada já em território português. Escolhi a Quinta da Corujeira, perto da cidade de Vila Real. Aqui descansamos, tomamos um bom banho de piscina, nos balançamos com vista para a linda vinícola e no dia seguinte chegamos em casa.
A Espanha é repleta de lindas paisagens, com uma gastronomia muito rica e um povo feliz. Faremos outras viagens para lá, com certeza!
Aproveito para compartilhar aqui as opções de hospedagem que ficamos nesta jornada.
Bilbao: https://www.7kalebnb.com/
San Sebastian: http://www.booking.com/Share-3ti11W Pension Riberas Del Uromea
Vila Real: http://quintadacorujeira.pt/
Fotos e texto: Clau Pereira @2021
Claudinha, além de fotografar como uma rainha, você escreve super bem! Viajei nas tuas estórias...
Lindas imagens que capturam o espírito do lugar.
Adorei o roteiro pelo país basco. Quando estiver lá quero experimentar suas dicas. Parabéns pelo roteiro e fotos!